EDUCADORES DE NÓS MESMOS
Maria Clara Silva de R. Valle (*)


As grandes mudanças técnico-científicas ocorridas a partir da segunda metade do século XX ainda estão sendo sentidas e vividas pela humanidade exigindo de todos nós esforços significativos para superarmos paradigmas até então solidificados. Em todas as áreas do conhecimento temos percebido reformulações em conceitos, teorias, sistemas - reformulações essas que influenciam sobremaneira nas nossas ações cotidianas, nas relações interpessoais, na constituição do núcleo familiar, nos planos educacionais, nos sistemas econômicos, e na percepção de Estado.
Na base dessas mudanças está, sem dúvida, num novo olhar que se lança à concepção do ser humano como agente construtor da sua identidade. Nessa perspectiva o desenvolvimento, agora, passa a se relacionar com a possibilidade de liberdade para as escolhas – de opções -, e coloca a educação no centro das discussões. “Num mundo mais complexo e onde há tantas possibilidades em todos os campos, pessoais e profissionais, precisamos fazer cada vez mais escolhas. A educação pode ser um caminho fundamental para ter condições de fazer escolhas mais significativas no campo intelectual, emocional, profissional e social na construção de uma vida mais plena de sentido e de realização.”(José Moran, 2010).
Em assim sendo, a educação ultrapassa ao âmbito do sistema educacional formal e agrega toda a comunidade e o Estado, através de suas várias políticas, como elemento propiciador de experiências de aprendizagem. Todos nós somos educadores – primeiramente de nós mesmo.
Encontramos assim possibilidades múltiplas de aprendermos e a sala de aula tradicional perde cada vez mais seu significado. O processo de aprendizagem acontece muito além da escola formal: nos espaços comunitários, nos programas religiosos com a infância, juventude e com a família, nas organizações empresariais, no trabalho voluntário, nas campanhas de saúde, nos encontros da melhor idade, nas experiências cotidianas dos condomínios, na onda virtual, na vida de relação.
Aprendemos muito, sempre, com todos.
Mas para que isso aconteça – para que possamos mergulhar nesse mar de conhecimentos novos - é imperativo que tenhamos consciência do processo de aprendizagem que se realiza em nós e por nós. Temos que, primeiro, querer renovar-nos – por que educar é renovar/transformar o “homem velho em homem novo.”
Para David Ausubel, psicólogo americano que debruçou sobre os processos de ensino-aprendizagem, para que se realize uma aprendizagem significativa é necessário que as novas informações, novas idéias, novos conceitos, se interajam com os conceitos pré-existentes, ou, no dizer do próprio Ausubel, se inter-relacionem com os subsunçores na estrutura cognitiva e sejam então incorporados produzindo assim uma síntese de todos esses conhecimentos (antigos e novos). Para ele os conhecimentos devem fazer sentido para a pessoa.
Parece difícil, mas não é. Parece fácil, mas também não é.
O que estamos querendo dizer é que aprendemos em qualquer lugar e com todas as pessoas desde que estejamos abertos a esse encontro do velho (já consolidado) e o novo (tão ameaçador). Para isso precisamos romper com nossos medos, com nossas certezas, com nosso orgulho e vaidade.
Continua muito atual a conclusão a que Sócrates chegou e que deve permear nossa busca pela perfeição: “Só sei que nada sei.”
Para que possamos ser educadores de nós mesmos, construtores da nossa identidade temos que admitir que não sabemos, que o nosso saber é relativo e que o não saber do outro pode complementar nossa ignorância atual.Só assim, com muita humildade e tolerância com as diferenças, poderemos crescer em conhecimento e plenitude.


(*) Maria Clara é Sócio-terapeuta Ramain-Thiers e Mestre em Educação
mariaclarasilva55@hotmail.com